O PANTEISMO: UMA DEFINIÇÃO
Panteísmo (do Grego “pan”: tudo – “Theos”: Deus) é uma compreensão que identifica o Universo, a totalidade, como Deus. É a certeza religiosa, ou a teoria filosófica, de que Deus é o Universo, junto com as forças e leis, no sentido mais amplo, são idênticos.
1) Religião ou Filosofia?
A palavra ‘religião’ tem significado mais amplo do que apenas crença no ‘sobrenatural’ e pode ser conciliada com o cultivo da razão e da lógica, da criatividade e da arte. Essencialmente a palavra religião pressupõe a presença (1) de uma cosmovisão, situando o indivíduo no Universo; (2) de um espaço proporcionando uma possibilidade de comunhão com outros indivíduos que percebem e sentem da mesma maneira; (3) de uma via, ou prática, para realizar valores religiosos.
Por apresentar estas características, a SOCIEDADE PANTEÍSTA AYAHUASCA não é apenas um sistema específico de pensamento, uma filosofia, no sentido de ampliar a compreensão da realidade. O panteísmo, cultivado no ambiente da sociedade, envolve uma posição ética – um interesse específico pelo meio ambiente, considerado sagrado – uma maneira de significar e reverenciar os ciclos naturais através de cerimônias e rituais, um intento de cultivar experiências místicas, de união com a natureza universal, isto é, um conjunto de atividades precisamente categorizadas com o uso da palavra ‘religião’.
2) Deus é o Universo
Sob o nosso ponto de vista panteísta, a concepção trivial e antropocêntrica de Deus é apenas uma metáfora culturalmente generalizada da natureza universal, do cosmos. Nas diversas religiões, os atributos da deidade são, em ultima análise, inspirados nas propriedades do Universo.
Aqui o Universo (com ‘U’ maiúsculo) é entendido como sendo a própria divindade por possuir todo o poder – um absoluto e ilimitado poder criador – por ser infinito e eterno, transcendente, misterioso e onipresente.
Deus, o próprio Universo, é o conjunto de tudo o quanto existe, ou seja, é o explosivo e luminoso conjunto das 30 bilhões de galáxias observáveis, cada uma com cerca de 100 bilhões de estrelas, e, todo o desconhecido, incluindo o tempo e espaço, toda a matéria/energia existindo nas suas diversas fases e estados. Nada existe antes, depois e fora do Universo e dele somos inseparáveis. O Universo existe, na sua plenitude, sujeito absoluto, objeto de si mesmo, além do alfa e ômega; ilimitado e inato, por nada e por ninguém determinado, ele apenas existe, sem autorização, sem mandato, sem obrigação, propósito ou objetivo.
3) Universo criador e surpreendente
As interações fundamentais – fortes, fracas, eletromagnéticas e gravitacionais – são as operações básicas, a substância, da álgebra essencial – matéria/energia – pelas quais o Universo, espontaneamente, autoorganiza-se. Do fluxo constante da matéria/energia, da interação constante de cada partícula, elemento e molécula, espontaneamente surgem padrões e organizações: nebulosas e galáxias, estrelas e sistemas solares, planetas, atmosferas, continentes e mares, florestas, plantas e todos os seres. Dessa dinâmica conjunta e interativa, todas as coisas se formam e se autodesenham. Das propriedades fundamentais da matéria/energia, do conjunto interativo e progressivo das coisas no espaço/tempo, resulta a geração sempre mutante de toda a ordem e beleza universal.
Outros atributos, corolários do poder criador, do fluxo constante de transformação, são a periodicidade – os ciclos de construção e destruição, de vida e de morte – e as irregularidades caóticas. Destruição e criação são dois lados da mesma moeda; sem destruição não poderia haver nenhuma nova criação, tudo seria eternamente fixo e imóvel, sem vida. O poder destrutivo do Universo é de fato temeroso; explosões e colisões são rotina. Galáxias colidem, se transpassam, rompendo estrelas e sistemas planetários; estrelas explodem em supernovas, que se tornam berços de novas vidas.
As mudanças não são arbitrárias, mas, à luz da limitada capacidade humana de observação, acontecem muitas vezes de maneiras imprevistas – de fato, a física quântica demonstra que partículas fundamentais podem sofrer mudanças aleatórias. Movimentos, como os dos agrupamentos galáticos, das galáxias e das suas estrelas, das nebulosas, das nuvens, das ondas do mar, das correntes de magma no centro da terra, são realmente imprevisíveis e surpreendentes.
4) Universo transcendente e misterioso
Por maior que possa ser o poder da ciência, como criaturas limitadas e finitas, nunca seremos capazes de totalmente definir e conhecer o ilimitado Universo; explicações sobre a sua origem permanecerão para sempre como teorias carentes de comprovações. A metodologia científica não parece ser capaz de abranger elementos essenciais da natureza humana, a exemplo do fenômeno da consciência, pela impossibilidade de se obter um ponto de vista, uma observação, absolutamente objetiva.
Nossos elementos formadores foram fundidos em estrelas distantes, espargidos por antigas supernovas, condensados em nebulosas e concentrados no sol; viemos, junto com toda a matéria/energia do planeta, da luz de estrelas distantes e da escuridão dos espaços infinitos. Nada é mais misterioso de que a “matéria/energia”, o binômio essencial e irredutível da criação, transformando-se incessantemente, gerando tudo quanto existe, da poeira interestelar à inteligência e consciência humana.
5) Universo inspirador e clarificador
Em muitas dimensões, a natureza resplandece grandeza, mistérios, diversidade e beleza. Magnífico nos céus estrelados, nas ondas do mar, nas cores das flores e no cantar dos pássaros, o Universo inspira a humanidade, fazendo brotar no coração sentimentos de paz, harmonia, respeito, alegria e amor.
Reconhecendo o Universo como sendo a divindade, é natural do Panteísmo cultivar sentimentos de reverência, amor, aceitação e respeito para todos os seres em geral e para a Natureza como um todo. Compreender, aceitar e admirar a supremacia do Universo induz em nós o desejo de tratar com cuidado e zelo a Natureza (plantas, animais e nossos semelhantes).
Consagrando a natureza, o panteísmo retifica importantes divisões conceituais – entre o sagrado e o mundo, a religião e a ciência – possibilitando, uma vez bem assimilado e compreendido, o surgimento de três tendências em direção à unificação, criatividade e ética.
UNIFICAÇÃO, pelo reconhecimento intuitivo e direto (o “religare” místico) da nossa unidade com o Universo divino e todos os seres.
CRIATIVIDADE, pela nossa absoluta e imediata integração e identificação com o Universo divino e criador.
ÉTICA, pela compreensão de que somos simplesmente parte da natureza e certamente não o seu centro, finalidade, motivo e propósito.
Fonte: http://panhuasca.org.br/spa/?page_id=53&lang=pt