Interview SESC – Revista E (junho 2018
- O que é a meditar?
Meditar, por ser um verbo, sugere que façamos alguma coisa. Porém, a arte de meditar, ao meu sentir, tem muito a ver com a arte de ser presente, a arte de observar o instante, tal como ele se apresenta, e não como gostaríamos que ele fosse. Para meditar basta respirar conscientemente e observar a quem observa, a pensa, observar sem nomear, sem descrever, observar sem se apegar a experiência de ser. Pois nós somos seres em constante transformação. A cada instante, nossas células se renovam, nossas emoções e nossos pensamentos se modificam. Nesse sentido, somos estados de ser, em constante evolução. E quando nos apegamos e nos identificamos com o corpo, com pensamentos ou emoções, deixamos de fluir com a natureza do ser, com essa constante mutação, para nos prender na esfera do tempo cronológico, que limita a nossa capacidade de se relacionar com o que é, naquele momento. Por isso, a meditação é um grande aliado nessa busca de se relacionar com a vida.
Meditar, para mim, significa se conectar com o presente, que é o único fator constante da nossa vida, pois em qualquer lugar que nos formos, iremos leva-los conosco. Meditar é um sinônimo de viver plenamente no aqui-agora, sem se expressar através de nosso apego ao passado ou da ansiedade do futuro. Simplesmente viver o que se apresenta no presente. Se relacionar com o momento como se fosse a primeira vez, com a pureza e a leveza da criança, que tem os olhos limpos de julgamento e se entregam com o coração verdadeiramente aberto para cada nova experiência que venha cruzar seu caminho.
Meditar pode ser feito então em qualquer momento de preferência em silêncio ou na natureza. O estado meditativo pode ser encontrado de maneira sentada ou de maneira ativa, por exemplo ao oferecer escuta para um amigo, realizar alguma tarefa ou andar na natureza.
- Poderia explicar como é esta imersão musical meditativa guiada por sons da natureza & instrumentos do mundo?
A Jornada Sonora Terapêutica é uma experiência de autoconhecimento através do som que conduz o ouvinte para seu universo interior. De olhos fechados, sentado ou deitado, o participante é convidado a se entregar ao universo dos sons, e abrir o corpo a escuta interna, em um estado de presença, no aqui, agora. Eu guio esse ritual de cura musical improvisando 12 instrumentos vibracionais sobre uma trilha sonora da minha composição repleta de sons de natureza evocando vários universos e paisagens sonoras.
A jornada se inicia com um passeio na floresta amazônica, guiada com flautas nativas com tambores e sons de animais, pássaros, chuvas e trovoes. Deste universo, seguimos nossa viagem para o oriente, visitando os sagrados templos da índia, com suas escalas orientais, suas cores violetas e sons misteriosos usando instrumentos como o saxofone soprano, a flauta transversal e a tambura indiana.
Deste lugar, mergulhamos para as profundezas da terra, abaixo das aguas do planeta, trazendo à tona a força do didgeridoo dos aborígenes australianos. Em seguida, o tambor oceânico irá levar a tripulação em alto mar para se purificar antes de desembarcar na praia. É neste momento que irei oferecer o gongo sinfônico harmônico para a plateia. Símbolo do todo poderoso sol, e irradiando harmônicos em todas as direções, quem o recebe se conecta com o calor da vida, o grande sol central da galáxia, desde as aguas da vida intrauterina até as raízes da humanidade.
Finalmente, a kalimba sansula nos recebe com umas aguas tranquilas. Esse instrumento com um som angelical muito delicado nos da o conforto de um colo de mãe após ter viajado por tantos lugares. Para concluir a Jornada, eu convido o participante a voltar suavemente para superfície e compartilhar sua experiência em palavras em uma roda de integração.
- O que te levou a essa prática?
Eu nasci na França onde iniciei o Piano com 5 anos de idade. O tempo passando, fui estudar e incorporar mais instrumentos na minha vida. Em 2016, após tocar mais de 20 instrumentos, ter produzido 3 álbuns autorais de World Music, e desenvolvido minhas pesquisas sobre o poder das vibrações como vetor de cura, eu tinha muita vontade de criar uma vivência totalmente nova para poder apresentar meu talento ao vivo, em um formato que reverência o poder de cura do som.
Eu sempre fui um buscador, animado por perguntas existenciais. Na minha busca pela essência, percebi que tudo é vazio, e que tudo vibra; “nada brahma” como dizem os orientais. O Sound Healing (cura pelo som) tem se apresentado como um caminho de cura muito poderoso, ajudando as pessoas a se conectarem com a essência do ser e da natureza através do som. Nessa mesma linha, criei o meu próprio método de Massagem de Som e hoje facilito cursos e workshops para ensinar as pessoas essa magia do som.
- Quais os benefícios desta meditação? Poderia citar alguns?
Deixe-me explicar como funciona o Sound Healing: vida é energia em movimento. Doença física/psicológica é energia precisando fluir. Assim, as vibrações emitidas pelos instrumentos se propagam através das moléculas de água que compõe 70% de nossos corpos, atingindo ossos, órgãos, fluidos e tecidos. Pelo fenômeno de ressonância, os harmônicos relaxam o cérebro, aliviam o sistema nervoso central e estimulam a memória celular saudável do corpo para que venha à tona. Assim, a energia flui, contribuindo no processo de cura e na recuperação da nossa harmonia interior.
Por ser integrativa, essa terapia acontece ao nível corporal, mental, emocional, e espiritual. As frequências dos instrumentos harmonizam esses corpos, trazendo um estado de paz, de relaxamento profundo e de conexão com a essência.
O mais interessante para mim é que essa vivência ajuda as pessoas a se conectarem com a espiritualidade de maneira não-verbal, somente através da experiência. Os relatos de quem participou falam claramente de limpeza, purificação, conexão com o sol, com o planeta terra, com as plantas e os animais. Através do som, os participantes lembram de eventos da infância e visualizam cores, a própria energia dos seus corpos.
- Qual a postura que você observa hoje das pessoas a respeito da prática da meditação? Ainda há preconceito?
Nós vibramos, e por consequência o nosso universo pessoal reflete nossa própria vibração. Nesse sentido, me sinto bem conectado e rodeado de pessoa que compartilham da minha visão sobre “o que é meditar”. Não assisto TV, quase não vejo as mídias sociais. Em vez disso componho, toco, estudo e realizo trabalhos no meio da natureza, onde sinto que é meu lugar.
Hoje vejo que as pessoas se sentem apressadas pelo relógio e tomar 30 minutos para praticar yoga, se alongar e meditar cada manhã pode parecer absurdo, por parece uma perca de tempo. Mas na minha visão, parar alguns minutos por dia para se conectar com a essência traz muitos benefícios. Eu acredito muito na nossa maestria interior, e que podemos sempre manter a paz interior independente do que esta acontecendo no exterior. Nesse sentido, se preocupar muito com o que os outros pensam sobre nos (quando meditamos ou quando fazemos qualquer coisa), irá gerar ansiedade e desconexão, ao acreditar/se apegar a pensamentos dualistas (o que é bom, o que pode VS o que é mal, o que não pode). Eu escolho ser flexível e deixar minha verdade se expressar através das minhas falas e atitudes, sem me preocupar com os preconceitos, que por natureza, são crenças limitantes.
Quero dizer que, para mim, duas das melhores práticas de meditação que realizo são caminhar em silêncio na natureza (sem barulho de cidade por perto) e tocar um sino tibetano e ouvir o som até o silêncio se manifestar. Isso me ajuda muito a me conectar com o vazio e a minha essência.
Pierre Stocker
Sound Healer